terça-feira, 31 de maio de 2011

O público através do espelho?

 (Por Joana Leal)

Realities Shows podem ser considerados a superexposição máxima dos atos mundanos de seres humanos mediados pelos meios de comunicação e que se tornam mercadoria da indústria cultural. Os programas exploram a sucessão dos atos prosaicos dos seres, combinados aos atos manipulados previamente nas edições, que buscam em seu conteúdo, reinterpretar a vida e que tem, principalmente na última década, cada vez e de forma mais avassaladora, invadido as programações de televisão. Essa maneira de inserir o olho público no âmbito privado é usada comumente pelas emissoras de televisão para atrair audiência e conseguir manter o fôlego das produções culturais visando, obviamente, lucrar com isso. Porém, essa atividade é apenas uma das facetas do fenômeno da exploração da imagem, do qual realities shows são um exemplo. A função deste espaço é ampliar essa discussão, sobre outros aspectos, através das novas maneiras de conceber a ideia de imagem no século XXI e observar, em que medida, as tecnologias da comunicação tem papel relevante para o desenvolvimento das novas maneiras de atuação dos agentes históricos.

Foto: Reprodução Web

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Olhar (biônico) do outro: a reconstrução do limite entre público e privado a partir dos novos olhares tecnológicos

(Por Flavia Borges)

Rob Spence perdeu um olho em um acidente ainda na juventude. No entanto, isso não abalou seu interesse profissional pelo campo da comunicação e sua trajetória como cineasta no Canadá. Atualmente, já reconhecido na área das produções áudio-visuais, Spence desenvolve um projeto inovador intitulado The Eyeborg Project, juntamente ao engenheiro Kosta Grammatis. A intenção era construir uma prótese ocular com uma câmera embutida, seguida de sua implantação na cavidade ocular de Rob. Filmar o mundo sob uma perspectiva jamais vista artificialmente, eis o objetivo do cineasta.

A produção desse material além de inovadora se mostrou controversa, pois suscitou  discussão a respeito da invasão de privacidade. Spence quer gravar o mundo de forma completamente camuflada (mais ou menos, já que se tornou uma web-celebridade com a divulgação do  projeto) e transformar seus vídeos em um reality show pós-moderno, um documentário de fragmentos do seu cotidiano – e do cotidiano alheio. Talvez mais que isso: ele quer discutir a cidade vigiada, a sociedade constantemente à mercê dos dispositivos de vigilância; ele quer colocar seu próprio corpo como um desses dispositivos. Foucault adoraria!

O projeto do olho biônico está em total consonância (no campo da discussão teórica que provoca) com as questões levantadas por alguns estudiosos dos fenômenos produzidos a partir da relação homem-máquina. A professora Fernanda Bruno, doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, trata em seu artigo “Quem está olhando? Variações do público e do privado em weblogs, fotologs e reality shows” exatamente deste tópico. O papel do olhar do outro, mesmo o olhar genuinamente humano, e sua inegável influência sobre as recentes e constantes mudanças entre as fronteiras do privado e do público. Rob Spence leva este tema ao seu ápice. E é a relação entre a teoria e o exemplo deste cineasta cyborg que veremos nos próximos posts!