(Por Flavia Borges)
Rob Spence perdeu um olho em um acidente ainda na juventude. No entanto, isso não abalou seu interesse profissional pelo campo da comunicação e sua trajetória como cineasta no Canadá. Atualmente, já reconhecido na área das produções áudio-visuais, Spence desenvolve um projeto inovador intitulado The Eyeborg Project, juntamente ao engenheiro Kosta Grammatis. A intenção era construir uma prótese ocular com uma câmera embutida, seguida de sua implantação na cavidade ocular de Rob. Filmar o mundo sob uma perspectiva jamais vista artificialmente, eis o objetivo do cineasta.
A produção desse material além de inovadora se mostrou controversa, pois suscitou discussão a respeito da invasão de privacidade. Spence quer gravar o mundo de forma completamente camuflada (mais ou menos, já que se tornou uma web-celebridade com a divulgação do projeto) e transformar seus vídeos em um reality show pós-moderno, um documentário de fragmentos do seu cotidiano – e do cotidiano alheio. Talvez mais que isso: ele quer discutir a cidade vigiada, a sociedade constantemente à mercê dos dispositivos de vigilância; ele quer colocar seu próprio corpo como um desses dispositivos. Foucault adoraria!
O projeto do olho biônico está em total consonância (no campo da discussão teórica que provoca) com as questões levantadas por alguns estudiosos dos fenômenos produzidos a partir da relação homem-máquina. A professora Fernanda Bruno, doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, trata em seu artigo “Quem está olhando? Variações do público e do privado em weblogs, fotologs e reality shows” exatamente deste tópico. O papel do olhar do outro, mesmo o olhar genuinamente humano, e sua inegável influência sobre as recentes e constantes mudanças entre as fronteiras do privado e do público. Rob Spence leva este tema ao seu ápice. E é a relação entre a teoria e o exemplo deste cineasta cyborg que veremos nos próximos posts!
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