domingo, 5 de junho de 2011

Como se construiu o Olho Público – ou o olhar do outro

(por Flavia Borges)

De acordo com a profª Fernanda Bruno, temos observado transformações nas fronteiras entre o público e o privado e , ainda, este fenômeno tem uma estreita ligação com a mutação também do estatuto do olhar do outro através da história.

Para explicar esse movimento, a autora nos guia pelas perspectivas socioculturais, políticas e psicanalítica sobre esse olhar do olho, que melhor se denomina como o olho público.

 Este olhar, que não deve ser personificado, é o olhar de todo mundo e de ninguém, ao mesmo tempo. Ele tem sua origem na idade média, na preocupação com a aparência, sempre espreitada por outras pessoas e à mercê de suas críticas, e acaba por se interiorizar em uma normatização e auto-cuidado com o corpo, inclusive com aquilo que o outro não poderia observar. Esse senso de cuidado reservado, internalização de padrões e valores socioculturais, mais o senso crítico sobre si mesmo, então, tornam-se as bases para a formação do superego.

É nesse fluxo histórico que podemos chegar ao cenário moderno, onde o estatuto do olho público ganha uma nova dimensão, uma dimensão desta vez de estrutura superegóica ,que advém da projeção dos indivíduos autocríticos e se cristaliza socialmente sob a forma da lei, da vigilância do estado, da moral, do controle e da norma. Há a delimitação, portanto, do novo público como o lugar vigiado, e, por conseguinte, a formação do novo privado como lugar de escape, liberdade ou refúgio da intimidade. Está colocada, neste momento, uma distinção muito nítida entre essas duas esferas, completamente antagônicas.



Andamos mais um pouco e, finalmente, alcançamos a contemporaneidade que trará consigo um novo caráter surpreendente e desconcertante para o olho público. O que vigora não é mais o olho superegóico, mas sim o olho egóico, em busca do gozo de ser visto e obter a aprovação. Bruno se refere, neste momento, ao cenário atual da busca pela alta performance e pelos objetivos de alcançar os ideais. Isso leva a uma preocupação constante com a própria apresentação em relação ao olhar do outro. E isso nos traz, portanto, ao tempo do narcisismo e do medo de não ser bom o suficiente.

O cenário está pronto para o florescimento de práticas de exposição da própria imagem e intimidade, aos olhos de todos, a partir dos dispositivos facilitadores e populares como as novas tecnologias de comunicação, que através das redes nos concedem espaços de exibicionismo como os weblogs, videologs, redes sociais e de compartilhamento de dados, incluindo os pessoais.

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