domingo, 5 de junho de 2011

Do exibicionismo da auto-exposição ao constrangimento da cidade vigiada repensada por Rob Spence

por Flavia Borges

As transformações dos fenômenos sociais, culturas e da produção de subjetividade têm sido um foco constante de estudos na Comunicação e demais ciências humanas. As novas tecnologias são hoje o principal símbolo de nossa sociedade pós-moderna. Elas são causas e consequências (agentes e sintomas), ao mesmo tempo, de comportamentos pautados na fluidez desta realidade cada vez mais líquida, como diria Bauman. Comportamentos instáveis e inusitados como ocorre com a questão da autoexposição da intimidade.

A Profª Fernanda Bruno volta seus estudos exatamente para as transformações das configurações do público e do privado, algo tão bem delimitado no século retrasado, e que hoje se apresenta com uma total inversão em sua lógica. É a inversão do princípio de visibilidade: se antes a intimidade deveria ser mantida na esfera do segredo, agora há muito mais interesse pela exposição, pautada talvez na necessidade de reconhecimento e da legitimação do olhar do outro. (Veja uma análise foucaultiana acerca deste fenômeno)

Não é à toa, portanto, que vemos o sucesso dos realities shows e o modismo  crescente dos blogs, vlogs e redes sociais. Mas até aí, a exposição se revela como uma auto-exposição, onde o próprio sujeito tem controle sobre sua imagem, revelando o que lhe convém em busca da bajulação e aprovação alheia.

Quando, no entanto, a exposição é forçada, o prazer no exibicionismo sofre abalo e o constrangimento entra em cena. A cidade vigiada, o Big Brother original (no 1984 de George Orwell) representam esses dispositivos de vigilância que penetram no íntimo sem pedir licença. Será esta a proposta do cienasta Rob Spence no Eyeborg Project, ao acoplar uma câmera em seu olho artificial e fazer um documentário com essas imagens cotidianas de pessoas desavisadas? Parece que sim. No entanto, sua ideia não se limita a uma mera celebração do espetáculo, mas pretende sim suscitar uma crítica sobre  "a fragilidade do nosso direito à privacidade, na medida em que os serviços de segurança aumentam a vigilância em nossas sociedades modernas", como ele mesmo declarou ao jornal El Mundo.

Spence comenta que, ironicamente, as pessoas têm se afligido mais com a possibilidade de conviver com ele e com sua câmera do que em serem o tempo todo vigiadas por câmeras escondidas pela cidade.

Veja entrevista de Rob Spence ao Today Show e conheça mais sobre sua proposta.


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